a primeira exposição (acima), anunciada pela revista veja em dezembro de 1979, reunia trabalhos dos cursos de desenho industrial da esdi e da escola de belas artes da ufrj. os cartazes e convites já davam o tom: impressos em papel kraft na gráfica da esdi, usando composição tipográfica em tipos móveis e uma ilustração de uma "máquina voadora" que fazia referência a leonardo da vinci, de quem reproduziam a citação: "o pássaro é um instrumento que obedece a uma lei matemática, e o homem possui a capacidade de reproduzir esse instrumento e seus movimentos". a segunda exposição (abaixo) aconteceu na escola de artes visuais do parque lage, e foi a continuação da primeira, agora com a adesão de trabalhos do curso de design da puc-rio. talvez o clima do parque lage (aonde eu estagiava na época) tenha influenciado cartaz e convite, bem mais "radicais" do que os da exposição na esdi. enquanto os primeiros refletiam a racionalidade gráfica esdiana (ainda que interpretada por estudantes de primeiro ano...), os outros, manuscritos e rabiscados e serigrafia e xerox, continham textos de pablo neruda (última estrofe de aqui vivimos - estravagario) e lao-tsé (poema 11 do tao te ching) e uma estética "suja" identificada com a contracultura da época.
infelizmente eu não tenho registro dos projetos apresentados, exceto por umas raras imagens de uma gravação da tve (e do livro esdi: biografia de uma idéia), aonde fui entrevistado sobre dois trabalhos na mostra (fotos abaixo). mas estes dois projetos são bastante representativos da mostra e do que fazíamos e pensávamos naquela época. ambos os projetos foram desenvolvidos na esdi com orientação do professor roberto verschleisser, e dos grupos faziam parte claudio lamas, gil brito e carlos vargas (infelizmente não me lembro se havia mais alguém nos grupos de trabalho)
biônica & biomimética
o primeiro era um estudo de conector metálico baseado na articulação rotular da cabeça do fêmur. biônica pura, seguindo os ensinamentos transmitidos com paixão pelo professor verschleisser, que nos apresentou victor papanek, buckminster fuller, gui bonsiepe e tantos outros autores que fizeram nossa cabeça e ajudam, até hoje, a fundamentar nosso pensamento. aprender com a natureza, observar, estudar e desenvolver conceitos a partir de similares naturais entusiasmou a todos.
há poucos dias li um post do fred gelli no blog da tátil design sobre biomimética - e lá estava todo o entusiasmo que ele (que também foi aluno do verschleisser) mantém sobre o assunto até hoje, inspirando criações premiadas do seu estúdio. vale conferir o trabalho da janine benyus citado pelo fred gelli, e seu livro biomimicry: innovation inspired by nature.
design sustentável: papanek x bonsiepe
o outro projeto, um silo octaédrico em lona plástica, suspenso numa estrutura tubular também octaédrica, que se apresentava como solução para armazenagem temporária de colheitas em áreas parcialmente alagadas.
este tipo de projeto encaixava-se no que gui bonsiepe (autor ávidamente consumido e adorado por nós, então jovens estudantes) definia como tecnologia apropriada, opondo-se ao conceito de tecnologia alternativa, apresentado por victor papanek no seu livro design para o mundo real (nosso livro de cabeceira). bonsiepe acreditava que os países em desenvolvimento deviam utilizar tecnologias que pudessem dominar facilmente, e passando sucessivamente a tecnologias mais sofisticadas. assim ele defendia a adoção incremental de novos conhecimentos, estimulando o desenvolvimento científico e industrial desses países. seu livro teoría y practica del diseño industrial dedica um capítulo a essa discussão: política tecnológica, diseño industrial y modelos de desarollo.
por sua vez, papanek defendia a recuperação de conhecimento local e soluções alternativas às tecnologias correntes, enfatizando a reciclagem e reprocessamento de materiais. a longo prazo, acredito que a visão de papanek manteria ou até mesmo aumentaria a distância entre os países desenvolvidos e em desenvolvimento, tornando estes últimos mais dependentes de tudo que dissesse respeito à novas tecnologias, mantendo um processo estacionário de reprocessamento semi-artesanal do descarte industrial. me lembro que em 1980 todos fomos assistir victor papanek num seminário na puc-rio, e saímos um bocado decepcionados com sua visão que então percebemos paternalista e sua tentativa de afastamento das questões políticas que envolviam a américa do sul naquele período. isso não impede que seu último livro, publicado originalmente em 1995 - the green imperative - tenha se tornado referência para o pensamento do design sustentável.
design sustentável: papanek x bonsiepe
o outro projeto, um silo octaédrico em lona plástica, suspenso numa estrutura tubular também octaédrica, que se apresentava como solução para armazenagem temporária de colheitas em áreas parcialmente alagadas.
este tipo de projeto encaixava-se no que gui bonsiepe (autor ávidamente consumido e adorado por nós, então jovens estudantes) definia como tecnologia apropriada, opondo-se ao conceito de tecnologia alternativa, apresentado por victor papanek no seu livro design para o mundo real (nosso livro de cabeceira). bonsiepe acreditava que os países em desenvolvimento deviam utilizar tecnologias que pudessem dominar facilmente, e passando sucessivamente a tecnologias mais sofisticadas. assim ele defendia a adoção incremental de novos conhecimentos, estimulando o desenvolvimento científico e industrial desses países. seu livro teoría y practica del diseño industrial dedica um capítulo a essa discussão: política tecnológica, diseño industrial y modelos de desarollo.
por sua vez, papanek defendia a recuperação de conhecimento local e soluções alternativas às tecnologias correntes, enfatizando a reciclagem e reprocessamento de materiais. a longo prazo, acredito que a visão de papanek manteria ou até mesmo aumentaria a distância entre os países desenvolvidos e em desenvolvimento, tornando estes últimos mais dependentes de tudo que dissesse respeito à novas tecnologias, mantendo um processo estacionário de reprocessamento semi-artesanal do descarte industrial. me lembro que em 1980 todos fomos assistir victor papanek num seminário na puc-rio, e saímos um bocado decepcionados com sua visão que então percebemos paternalista e sua tentativa de afastamento das questões políticas que envolviam a américa do sul naquele período. isso não impede que seu último livro, publicado originalmente em 1995 - the green imperative - tenha se tornado referência para o pensamento do design sustentável.
esta semana eu assistia um programa na bbc 2 (big ideas, com james may) aonde o apresentador, em uma viagem aos estados unidos para visitar experimentos de geração de energia não-fóssil, chega a uma comunidade alternativa estabelecida nos anos setenta. ali, um dos idealizadores explica que a idéia não é rejeitar novas tecnologias, nem o conforto moderno. a sua casa alternativa tem geladeira, microondas, internet e rede wi-fi. a questão é a auto-suficiência energética, tratamento de afluentes, aproveitamento racional e conservação de água, reciclagem, etc. um equilíbrio entre o apropriado e o alternativo, que sobrevive a mais de trinta anos de experimentação.
por último, já que falei do bonsiepe, a bedford press acaba de lançar um livrinho com suas reflexões sobre o potencial de atuação política do design: design and democracy. leitura obrigatória!
por último, já que falei do bonsiepe, a bedford press acaba de lançar um livrinho com suas reflexões sobre o potencial de atuação política do design: design and democracy. leitura obrigatória!
4 comentários:
Muito interessante ver que há vinte, trinta anos se tratavam assuntos que hoje se consideram 'atualiade', além dos registros históricos de fotos e cartazes feitos na esdi há tanto tempo.
Gabriel, com grata satisfação passeio pela primeira vez pelo seu blog, desde já merecedor dos meus mais sinceros elogios. Especificamente, neste tópico não posso me furtar a compartilhar do imenso aprendizado que foi para nossa turma ESDI-1979, em seu primeiro ano de Escola, desenvolver este projeto com a culminância da exposição DA NATUREZA AO PRODUTO. Era uma preparação para os nossos olhares e pensamentos criativos voltarem-se com sabedoria para a responsabilidade no ato de criação, respeitando aquilo que há de mais simples e genial na natureza e transformando-o em produtos eficientes, uteis e porque não, belos. Parabéns pelo BLOG, Bjs da amiga Claudia Ghelman Sussmann
Grande Lamas, um dos melhores professores que já tive.
Mesmo com o passar das décadas os designers mantém os mesmos interesses e desafios, o que torna essa profissão tão interssante e prazeiroza.
Professor
Convido você a conhecer o meu blog de design ecologico, e colocarei um link lá para este blog excelente.
Um abraço.
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